Huntress: crítica de ‘Spell Eater’ (2012)



Nota: 8,5


A trajetória de Jill Janus, vocalista e figura central do Huntress, é impressionante. A garota foi criada em uma fazenda localizada nas montanhas Catskill, próximas a Nova York. Adolescente, mudou-se para Manhattan, onde desenvolveu a sua voz de soprano e graduou-se em um conservatório. Depois de formada, fez uma audição, foi aprovada e embarcou para Mônaco, onde passou um ano se apresentando para a rica sociedade europeia. De volta aos Estados Unidos, Jill começou a promover festas onde era DJ de heavy metal para sobreviver. Detalhe: ela tocava os discos vestida apenas com um minúsculo biquini.


A loira mantinha, em paralelo, um emprego fixo no World Trade Center, onde apresentava um programa chamado The Stereo Show no andar 107. O programa foi ao ar pela última vez em 10 de setembro de 2001. No dia seguinte, as Torres Gêmeas foram ao chão devido ao atentado terrorista que marcou uma geração. Jill perdeu, além do emprego, o seu apartamento (que ficava próximo ao WTC) e toda a sua grana. Sem ter para onde ir, voltou a morar com os pais. Lá, a Playboy entrou em contato com a vocalista e a enviou para Los Angeles para fazer um ensaio fotográfico. E foi justamente na Califórnia que a loira finalmente encontrou os músicos para formar a banda que sempre quis.


O Huntress surgiu em 2009, quando Jill Janus encontrou os guitarristas Blake Meahl e Ian Alden, o baixista Eric Harris e o baterista Carl Wiezrbicky. Os cinco começaram a ensaiar e a dar forma à sua música, apresentando-se em diversos clubes. Esses shows chamaram a atenção da mídia especializada e da Napalm Records, que assinou com o grupo em 2011. O burburinho cresceu com o lançamento do vídeo para o single “Eight of Swords” em outubro do ano passado, que impressionou por trazer um heavy metal agressivo e intenso, enquanto a banda explorava um visual repleto de espadas, couro e, é claro, a sensualidade de Jill.




Spell Eater é o disco de estreia do Huntress. Lançado na Europa no último dia 27 de abril, dá sequência à ascenção constante do quinteto. Produzido por Chris Rakestraw (Motörhead, Skeletonwitch, Danzig), o álbum é um primor, apresentando um metal tradicional vigoroso e empolgante. 


Liricamente, o Huntress segue o mesmo caminho de nomes como Ghost e Devil’s Blood, explorando temas ligados ao ocultismo e ao paganismo em suas letras. Essa abordagem é mantida também no aspecto visual, com Jill Janus posando coberta de sangue e deitada sobre pentagramas vestindo trajes inspirados na personagem de quadrinhos Vampirella. Já no que se refere à música, o que temos é um som influenciado por nomes clássicos como Judas Priest, Iron Maiden, Mercyful Fate, Megadeth e Iced Earth. A ligação com o Mercyful fica ainda mais explícita pela forma de cantar de Jill, explorando tons altíssimos e falsetes em suas linhas vocais, seguindo os ensinamentos de King Diamond. Há uma dose extra de agressividade devido ao flerte explícito com o thrash metal, resultando em um som agressivo, melódico e cheio de energia.

O trabalho de guitarra é primoroso. Riffs cheios de classe remetem à NWOBHM e dividem espaço com passagens rapidíssimas e trechos com guitarras gêmeas. Os vocais são sempre altíssimos, como se Jill fosse uma espécie de banshee a serviço do metal. Porém, a vocalista vai além, explorando também timbres mais guturais, o que dá um muito bem-vindo ar extremo ao som.



Tudo gira em torno de Janus. Ela dá um novo significado para o heavy metal cantado por mulheres, afastando-o, por exemplo, do que artistas como Cristina Scabbia e Angela Gossow fazem, respectivamente, no Lacuna Coil e no Arch Enemy. Jill é a terceira via, uma nova possibilidade, explorando uma gama que não se limita à vozes operísticas ou o gutural puro e simples.

As dez faixas de Spell Eater mostram, sem cerimônia, as muitas qualidades do grupo. A faixa-título e “Eight of Swords” se destacam de imediato, e são sérias candidatas a futuros clássicos. “Snow Witch” tem um belo solo de guitarra, enquanto “Senicide” e “Children” conquistam com refrões e linhas vocais que não saem da cabeça tão cedo.

Este é apenas o primeiro disco do Huntress e mostra uma banda com predicados suficientes para nos fazer acreditar que, nos próximos anos, Jill Janus e sua turma alçarão vôos cada vez mais altos. 


A heavy metal em 2012 passa pelo Huntress. Seja esperto, embarque nesse disco e não passe reto.



Faixas:
  1. Spell Eater
  2. Senicide
  3. Sleep and Death
  4. Snow Witch
  5. Eight of Swords
  6. Aradia
  7. Night Rape
  8. Children
  9. Terror
  10. The Tower

Comentários

  1. Eu conheci a banda aqui no blog mesmo e gostei bastante. Só acho que a vocalista se assemelha muito mais com a Leather Leone do que com qualquer outro vocalista. Esse cd tinha que sair nacional.

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  2. qdo comecei a ler a resenha não me empolguei muito com a banda....

    mas qdo cheguei no fim ja tava muito a fim de ouvi-los..

    otima resenha..

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  3. Sempre aponto para a "dualidade" do blog: respeito muito por seguir minha linha de pensamento, muitas vezes tirar as palavras de minha boca e recomendar nomes inovadores de uma cena ativa e produtiva que é a cena metálica!

    Por outro lado, às vezes recomenda bandas sofríveis, como no "Novas Caras do heavy metal", posts que pouco trazem do "NOVO" propriamente dito.

    NÃO vou acusar o Huntress de ser "ruim", reconheço. Fui atrás, até por coerência e para saber se era uma dica quente ou não do blog. Mas só concordo com uma coisa:

    "Jill é a terceira via, uma nova possibilidade, explorando uma gama que não se limita à vozes operísticas ou o gutural puro e simples."

    Nisso tem certa razão, não deixou de ser uma "carta na manga" da banda. Mas daí a apontá-la como um grande novo nome, ou dizer que o metal em 2012 "passa por eles", acho pra lá de exagerado!

    Boa banda, mas do nível de outras que repetem "mais do mesmo", como o tal Steelwing que repudiei (talvez até um passo á frente, por ter AO MENOS UM diferencial na vocalista), e um nível BEM ATRÁS de um Ghost, por ex, que NUNCA ACHEI que é uma repetição do que já foi feito... até o mediano Amaranthe trouxe um algo a mais que o Huntress tb...

    Bom, está um passo à frente de 98% do que é feito no metal nacional também, vá lá... nota 6,0. rs

    gde abço!

    PS: o Ricardo fica bravo, mas é que acho (EU!) o cúmulo, em pleno séc. XXI, em pleno ano de 2012, alguém ainda fazer "som influenciado por nomes clássicos como Judas Priest, Iron Maiden, Mercyful Fate, Megadeth e Iced Earth"... que fosse remotamente, mas fazer um som influenciado APENAS por estes nomes, sei não...

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  4. Scobar, eu não fico brabo com nada disso. Cada um tem a sua opinião, só isso. O que eu achei sobre o disco está no texto, e você, como todo mundo aqui, não só pode como deve, sempre, construir a sua opinião própria sobre as coisas.

    Abraço.

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  5. Curti esse som, mas atualmente está complicado falar que tem algo novo que será a nova cara do metal. Mas certamente será uma banda de destaque!

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  6. Que tem muita coisa nova, que efetivamente SÃO as "novas caras do metal", existem, claro, e MUITAS mesmo (e este blog divulga PARTE delas com louvor)... agora, se o Huntress é uma delas, é como comentei: fico com um pé atrás! Não se trata, aqui, do 'futuro' do metal... ou eu espero que não fique restrito a isso rs

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